Por dra. Juliana Duarte
Muitas vezes a palavra Paliativo é entendida como algo temporário, como uma medida substituta de outra mais definitiva, ou até mesmo como “dar um jeitinho”. Cuidado Paliativo não é nada disso, e é importante que você conheça melhor essa forma de cuidar, da qual, a maioria de nós precisará um dia.
A origem verdadeira de Paliativo é a palavra latina palium. Palium significa manto e, historicamente, assim eram chamadas as capas usadas pelos cavaleiros das Cruzadas para se acolher das intempéries. É esse o sentido que se evoca nos cuidados paliativos, um manto que acolhe, cuida e protege as pessoas, em seu momento de maior sofrimento e fragilidade.
Do ponto de vista da vitalidade, o ciclo de vida de nós, seres humanos, é composto pelo nascimento, crescimento e desenvolvimento, estabilização relativa, e a redução progressiva dessa vitalidade até a morte física.
Para cada uma dessas fases vitais, os objetivos dos cuidados com a saúde são e devem ser diferentes. O Cuidado Paliativo entra em cena quando a pessoa está diante de uma doença incurável e vai ganhando maior espaço de atuação, a medida que a doença progride.
Uma pessoa diante de uma doença incurável, experimenta muito sofrimento. A dor é total, ela tem origem no corpo, na psiquê e na alma. É comum haver, além da dor, falta de ar, falta de apetite, tristeza, medo, raiva, vergonha e angustia existencial. Em cada momento, a figura de cuidado mais necessária, muda: ora o mais importante é o médico, ora é o psicólogo, ora o enfermeiro, ora o nutricionista, ora o assistente social, ora o capelão ou conselheiro espiritual, e etc. O cuidado paliativo deve ser feito em equipe e todos os profissionais são igualmente importantes para conseguirmos oferecer uma atenção holística.
Para realizarmos um cuidado paliativo de qualidade, precisamos ouvir, acolher e cuidar também dos familiares e outras pessoas com vínculo afetivo com a pessoa doente. Quando sofre uma pessoa, sofre junto quem congrega com ela sentimentos, planos e uma história de vida.
Quem se dedica a realizar cuidados paliativos tem uma tendência enorme à empatia, costuma ser atento aos detalhes que envolvem o bem estar humano, em suas dimensões física, psíquica, social e espiritual, e dá muito valor ao tempo.
Todos nós somos seres “terminais”, pelo menos na esfera física. Começamos a “terminar” no dia que nascemos. A única diferença entre quem não tem uma doença incurável e quem tem, é que quem está doente tem seu tempo de vida mais bem delimitado e os outros não.
Os outros costumam viver com uma certa ilusão de eternidade. Para quem tem seu tempo mais delimitado, cada minuto vale muito! Um minuto com dor é uma eternidade e um momento de alegria, também.
Para realizarmos um cuidado paliativo de qualidade precisamos compartilhar muitas coisas. As decisões devem ser compartilhadas entre a pessoa doente, a família e a equipe de saúde. Devemos compartilhar informações de forma compassiva entre todos os envolvidos, precisamos construir uma comunicação que trata e acalenta.
O momento que estamos vivendo é de grandes incertezas mas, é importante termos clareza a respeito de alguns pontos que vem sendo difundidos pela mídia em geral, assim evitamos muito sofrimento. Um ponto importante é entendermos, que o uso de critérios etários para se definir a qual pessoa o recurso de saúde será fornecido, não é ético, legal e nem correto do ponto de vista da ciência. O conhecimento a respeito desse campo de atuação e estudo pode e deve auxiliar na compreensão e na definição a respeito do nível de complexidade ao qual, uma pessoa doente deve ser submetida, de acordo com sua capacidade de recuperação.
Felizmente, os profissionais que se dedicam aos cuidados paliativos no Brasil vem se multiplicando e o número de hospitais, clínicas e serviços de atenção domiciliar que realizam esse trabalho, também vem crescendo. Ainda assim, precisamos de mais pessoas envolvidas e, de que a sociedade compreenda e incorpore ainda mais, essa maneira de cuidar, tão necessária e nobre, ao dia a dia da assistência à saúde.
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