“Tenho vontade de escrever, e tenho uma necessidade ainda maior de tirar todo tipo de coisas de dentro do meu peito. ‘O papel tem mais paciência do que as pessoas’.” (Anne Frank)
A comunicação permite que as pessoas compartilhem diferentes informações entre si e, assim, possam conviver em grupo. Quando nos comunicamos através da linguagem falada ou escrita, estamos realizando uma comunicação verbal. A linguagem é uma forma de comunicação exclusiva dos seres humanos e a partir dela podemos acessar tanto o ambiente externo, quanto o pensamento.
Como forma de proteger a própria vida, a mente humana busca, a todo o tempo, entender o que acontece consigo e ao seu redor. Diante de situações desconhecidas e estressantes, ela trabalha ainda mais na tentativa de compreender o que se passa. Traduzir essa experiência, conseguir colocá-la em palavras, é uma maneira de torná-la menos complicada e perigosa.
Muito já sabemos também sobre os benefícios da psicoterapia ou, como diria Freud, da “cura pela fala” – outra atividade humana que recorre à linguagem verbal. Aliás, este é um recurso potente para cuidados com a saúde mental e, consequentemente, para viver mais com qualidade de vida. A expressão de pensamentos e sentimentos em ambiente seguro e livre de julgamentos, acompanhado por um profissional que dê suporte e estimule uma (re)organização interna produz efeitos terapêuticos.
Neste processo de busca por assimilar de alguma forma um determinado contexto, a linguagem verbal já foi ferramenta para muitas criações humanas também como, por exemplo, importantes obras de arte no campo da literatura e da música. Mas fora da psicoterapia e mesmo não sendo um artista renomado, podemos fazer uso dela a nosso favor. Uma das possibilidades de uso da linguagem verbal acessível para qualquer pessoa que queira experimentar é a escrita.
A escrita sobre experiências, sentimentos e pensamentos pode ter grande valor terapêutico, pois convida a fazer reflexões e buscar formas criativas de lidar com situações difíceis. Aos mais expressivos ela permite dar vazão ao que se tem necessidade ou vontade de comunicar. Aos que têm alguma dificuldade de se expressar pode ser uma forma de experimentar essa comunicação consigo e/ou com o outro e de encontrar alívio emocional. Não por acaso, o diário é chamado de amigo, pois como manifesta Anne Frank em nossa citação de abertura, o papel não faz julgamentos.
A escrita tem sido utilizada há milênios para explorar e expressar emoções. Ela provoca reflexão, ajuda a organizar os pensamentos e a compreender melhor o que se sente. Nesse processo existe a possibilidade de estimular a imaginação; encontrar ou reencontrar sentidos para a vida; aceitar o passado; refletir sobre decisões e atitudes do presente e almejar caminhos futuros. Com isso, pode contribuir para o bem estar físico e mental de quem escreve.
Escrever com a finalidade terapêutica e de lazer não exige habilidades literárias, nem grandes preocupações com ortografia e gramática. Melhorar a escrita pode ser uma consequência desse exercício, mas para realizá-la como forma de diversão ou relaxamento basta se propor a colocar em palavras escritas, pensamentos e sentimentos ligados a acontecimentos, situações, ideias, fantasias, etc.
Vários são os formatos possíveis de praticar essa atividade. Ela pode ser intimista, com registros em formato de diário ou pode ser endereçada a outras pessoas. As redes sociais e os blogs são formas oportunas de compartilhamento público neste cenário de necessária permanência em casa, o máximo de tempo possível, para prevenção do coronavírus.
Livros que podem inspirar a escrita como recurso terapêutico, especialmente em formato de diário:
- O diário de Anne Frank: escritos de uma menina judia que ganha um diário e passa a registrar nele seus sentimentos e suas vivências durante a Segunda Guerra Mundial. A escrita desse diário começa com o seguinte registro: “Espero poder contar tudo a você, como nunca pude contar a ninguém, e espero que você seja uma grande fonte de conforto e ajuda”. E assim parece ter feito Anne, ao longo de 2 anos.
- Quarto de despejo: Nascida em Sacramento, Minas Gerais, em 1914, Carolina Maria de Jesus mudou-se para a capital de São Paulo em 1947, onde registrou suas vivências enquanto mulher negra, pobre, catadora de papel, mãe solo e escritora. Essa escrita vai fazendo parte de um processo no qual Carolina revisita sua história e repensa seu modo de ser e estar no mundo: “Eu fiz uma reforma em mim. Quero tratar as pessoas que eu conheço com mais atenção”.
Dica: A pandemia é uma dessas situações novas e desconhecidas que tem gerado angústia, estresse e as mais diversas sensações difíceis de digerir. A desordem provocada por tantas mudanças externas gera também estranhamentos internos. Escrever pode favorecer uma tradução do que acontece de forma geral e, principalmente, do significado pessoal dessa vivência. Já pensou em experimentar a escrita como um recurso terapêutico?
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