A pandemia trouxe desafios que vão além do distanciamento social, principalmente para os 60+. Descubra como as pessoas idosas podem aproveitar melhor o tempo livre “imposto” pelo isolamento

Como explica a terapeuta ocupacional Cecília Xavier, “tempo livre não é apenas uma conquista a ser degustada. É um desafio que exige uma condução atenta e bem administrada”. É comum na fase adulta as pessoas desejarem ter mais tempo livre. Este é um momento em que as atividades de trabalho, capacitação para exercer uma profissão ou outros deveres ocupam grande parte da vida e, por vezes, impedem outras realizações. Porém, não é raro elas sentirem tédio, ansiedade ou angústia quando experimentam o tal tempo almejado.

Ter mais tempo livre costuma ser um dos fatores que mais preocupam ou incomodam quem vive um processo de transição a caminho da aposentadoria. Algumas pessoas que passam por algum acometimento que demanda licença do trabalho para cuidados com a saúde ou mesmo uma reorganização da rotina de trabalho e/ou estudo ficam tão aflitas pela queda na produtividade laboral, que muitas vezes mal conseguem prestar atenção no que aconteceu como um alerta de que é preciso rever alguns hábitos. Outras tantas, mesmo trabalhando excessivamente, sentem culpa a qualquer sinal de tempo livre: – Eu deveria estar aproveitando esse momento para resolver tal pendência ou fazer tal obrigação.

O tempo livre e os sentimentos inerentes ao isolamento

Qual o sentido de tamanho embaraço diante de uma brecha aberta a outras possibilidades? Muitas vezes, ele está relacionado a uma alta valorização da pessoa e da sociedade de atividades que dêem algum status, retorno financeiro ou resultado materialmente palpável, em detrimento de outras atividades que produzam bem estar físico e psicológico, as quais são parte fundamental de um envelhecimento saudável. Esta perspectiva limitante contribui bastante para a preocupação e o incômodo de muitos 60+ diante da aposentadoria.

Neste momento atual, frente à necessidade de evitar aglomerações para prevenir a disseminação do novo coronavírus, as pessoas idosas têm orientação para ficar a maior quantidade de tempo possível em casa. Dentre as consequências dessas medidas necessárias para prevenir o contágio por covid-19, destacam-se as mudanças na rotina e a perda do convívio com demais pessoas. Isso tende a gerar sentimento de inutilidade com a perda de tarefas que antes eram de sua responsabilidade, como fazer compras e cuidar dos netos, por exemplo. Assim, uma parcela dos 60+ que já queixava do excesso de tempo livre, agora se sente ainda mais impactada por isso. Os impactos do isolamento social na saúde mental dos idosos foi registrado nessa vídeo da Fiocruz

Mas, diante do inevitável, como lidar?

Conheça quatro formas de acolher e ajudar as pessoas idosas em isolamento social

Em termos práticos, incentivar o estímulo da mente e do corpo em casa, nesse momento de pandemia, é fundamental para reduzir os possíveis danos à saúde mental em decorrência do isolamento social. As atividades de cultura e lazer podem contribuir bastante na melhoria do raciocínio, no sentimento de pertencimento, na sensação de bem-estar e na manutenção ou resgate da autonomia. Porém, para que esse incentivo seja praticado e cumpra uma função de lazer, é importante aprofundar a conversa e auxiliar a pessoa idosa a organizar seu tempo livre. Veja 4 dicas interessantes:

  1. Estimular a organização de uma rotina que concilie tarefas necessárias, como alimentação e higiene pessoal e momentos reservados para atividades de lazer;
  2. Convidar à identificação de atividades que possam proporcionar bem-estar físico, psíquico, emocional e/ou espiritual em casa, conforme as habilidades, preferências e funcionalidade de cada um. Essa busca precisa ser feita no caso a caso, pois fazer determinada atividade em si não é o que leva à satisfação, mas sim a percepção de que tal atividade é reconhecida socialmente, e/ou proporciona o sentimento de pertencimento a um grupo, e/ou tem algum tipo de vínculo com a identidade da pessoa, seja a sua profissão, a sua história de vida, ou seus ideais e valores. Isso vai variar de pessoa para pessoa;
  3. Incentivar cuidadores/familiares a contribuírem e/ou participarem das atividades de cultura e lazer, visto a possibilidade disso promover trocas intergeracionais e fortalecimento de vínculos;
  4. Refletir sobre possíveis falas e atitudes preconceituosas ou intolerantes por fazer parte de outra geração e por estar passando por uma situação diferente ao longo da pandemia. Especialmente nas circunstâncias atuais, os profissionais da saúde têm sentido sobrecarga física e mental, o que pode gerar incômodos ou estranhamentos diante de um problema baseado no oposto da ocupação intensa do tempo.

Desfrutar do tempo livre é um grande desafio, principalmente quando ele parece excessivo como nesse momento de restrições impostas pela pandemia. Diferentemente do trabalho, que é uma atividade estruturada com regras e objetivos bem definidos, os quais favorecem a organização do tempo, o tempo livre impõe criar e reinventar uma rotina. Sem rotina, perde-se um norte, torna-se mais custosa a resolução de problemas no dia a dia e a todo momento são necessárias tomadas de decisão. Para um cuidado integral à saúde da pessoa idosa, é importante conhecer a quais desafios ela está submetida nessa etapa da vida e buscar construir junto com ela soluções que deem satisfação e sentido à vida.

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