Um relato inspirador e verdadeiro em relação à pandemia, sob o olhar de uma pessoa 60+. Veja quais ensinamentos, desafios e constatações é possível extrair dessa nova realidade.
Pela TV, já tivemos oportunidade de assistir a programas, reportagens ou documentários sobre a vida e rotina de povos asiáticos. Lá, tirar os sapatos antes de entrar em casa ou usar máscara facial em público – seja por causa dos altos índices de poluição do ar (na China mega industrializada, por exemplo), seja pelo aguçado senso de civilidade e cidadania desenvolvidos desde a tenra infância (no Japão e Singapura), é algo natural e rotineiro. A máscara é corretamente usada como proteção para uma pessoa que está gripada ou resfriada, já que protege a si e aos outros com quem interage e nas cidades por onde tantos transitam.
Mas, para nós brasileiros, “isso nunca passou pela cabeça” , como me disse em tom de “reclamação”, o porteiro do nosso prédio – um senhor muito experiente e bem disposto, aos 65 anos de idade, sendo os últimos 35 dedicados às funções de recepção e gentileza com os moradores e visitantes do condomínio. Incomodado com a tal da máscara, a qual se vê “obrigado” a usar, ele ajeita os óculos embaçados e diz que “não vê a hora disso tudo passar”. De fato, eu, como o “Seu” Nilton, nunca me imaginei numa situação dessa atual.
No entanto, ponderando, temos que reconhecer tratarem-se, tanto a quarentena quanto o uso da máscara e a intensificação dos hábitos de higiene, de uma necessidade compartilhada por (quase) todos os habitantes contemporâneos do planeta, nos 5 continentes.
Diante de uma pandemia dessas proporções, gerou-se uma tentativa de proteção ou diminuição dos riscos de contaminação direta, através do chamado ISOLAMENTO SOCIAL, do confinamento em casa, descaracterizando nossos hábitos de livre circulação, encontro, ajuntamento, trabalho, rotina diária, celebrações, etc.
Como lidar com esta nova realidade
Como viver com o NOVO NORMAL que está se configurando nesse percurso de 2020 e cujos desdobramentos, para os anos vindouros, ainda desconhecemos?
Como nós, 60+, podemos/devemos encarar e enfrentar os desafios que nos são propostos (ou até impostos), sendo que fomos identificados e nomeados como GRUPO DE RISCO para o qual as restrições e recomendações são ainda mais severas?
Como “reaprender” a lidar com as manifestações de afeto, amizade, carinho, se nos é aconselhado nos apartarmos de abraços entre familiares e amigos, de beijinhos e chamegos nos netos; se somos forçados ao distanciamento do ciclo de amigos de longa data, das rodas de conversa, do trabalho fora de casa, das atividades mais corriqueiras como ir à feira, ou caminhar nas praças, ou ir à igreja participar da comunhão fraterna? Viagens e excursões a lazer, celebrações e festejos então, estão fora de cogitação por tempo indeterminado. O que nos “restou”?
A nova velhice
Nós – os 60+ contemporâneos – temos sido estimulados a nos mantermos ativos, criativos, pró-ativos, participativos… e GOSTAMOS disso.
Até relativamente pouco tempo, não tínhamos o amparo de um “Estatuto do Idoso”, por exemplo, ou de outras políticas públicas de atenção e proteção. Atualmente, percebemos um movimento significativo de valorização dos idosos com ações que, podem parecer simples, mas que dão sinais de reconhecimento e relevância à nossa condição.
Por exemplo: o passe livre nos transportes públicos e no acesso gratuito a vários eventos ou locais de entretenimento; prioridade no atendimento em bancos e nos estabelecimentos comerciais; vagas de estacionamento próximas aos acessos em hospitais, shopping centers, e condomínios comerciais ou particulares; acesso a associações e programas que promovem ações de convivência saudável, informação e promoção de conhecimento, bem estar, promoção da saúde física e mental. Enfim, várias propostas de inclusão, capacitação e cidadania para quem é identificado como “idoso”.
Envelhecer no século XXl: novos contornos e nova conotação
Tem surgido, cada vez mais, produtos e serviços específicos para nossa faixa etária. Os laboratórios químicos e farmacêuticos desenvolvem não só novos medicamentos e vitaminas para uma melhor qualidade de vida, mas cosméticos adequados ao nosso tipo de pele e cabelos, dentre tantas outras coisas.
Constroem-se instrumentos e aparelhos que possibilitam ou melhoram nosso acesso, que facilitam nosso aprendizado e atualizam nossa necessidade, como livros impressos em letras grandes para facilitar a leitura (isto também se observou em embalagens e bulas de remédios) e telefones celulares (ou smartphones) com teclas grandes e “botão de emergência” para facilitar o manuseio e nos manter integrados às novas modalidades de comunicação.
Surgiram muitos cursos e programas educacionais voltados para o público 60+ como, por exemplo, a ” Universidade da Terceira Idade”. Nas praças das grandes cidades têm sido instalados equipamentos de ginástica para estimular que nos exercitemos.
Afinal, o idoso ganhou visibilidade e uma nova identidade social
Felizmente, para muitos de nós, o acesso aos meios de comunicação contemporâneos nos permite realizar encontros e reuniões virtuais, seja com familiares ou amigos, ou outros que tenham algo a compartilhar, aprender ou ensinar, ajudar e até cuidar. Por exemplo: os Conselhos Federais e Regionais de Saúde, autorizaram profissionais (médicos e psicólogos, a princípio) a realizar consultas e atendimento de suporte e orientação à distância por telefone, whatsapp ou vídeo conferência.
Certamente, o contato VIRTUAL ONLINE não é a mesma coisa que uma consulta presencial, mas, trata-se de uma adaptação, uma possibilidade alternativa para uma situação ou condição atual e provisória, para uma ajuda ou esclarecimento que nos seja útil e imediato.
Envelhecer EnvelheSendo
Envelhecer em tempo de Covid-19 é um desafio à RESSIGNIFICAÇÃO – isto é – encontrar novo significado e novas formas de resolver novos e antigos problemas. Talvez, passando a envelheSER encontremos a melhor saída para essa nova normalidade. TEMOS QUE NOS REINVENTAR! É importante não resistirmos às mudanças e adaptações (as quais não escolhemos, mas nos sobrevieram), para nossa própria proteção e evolução.
Três dicas importantes que tenho considerado para mim mesma:
- Manter o autocuidado: nossa atenção deve voltar-se para o cuidado pessoal agora – mais do que nunca, com ênfase em reforçar hábitos de higiene pessoal e do ambiente, respeitando os limites e adequações à quarentena;
- Expressar os sentimentos: também nos é aconselhável falar claramente dos nossos temores e preocupações, buscando o apoio adequado e as informações que serão determinantes para nossa segurança. Manter a tolerância e a paciência que geram perseverança para aguardar o tempo certo de voltarmos ao rítmo e atividades regulares, é sinal de saúde emocional;
- Dosar as notícias e controlar o medo: não devemos nos deixar contaminar por notícias sensacionalistas e alarmistas que geram medo e mal estar e , muitas vezes, não correspondem à realidade dos fatos. Veja o que a Cruz Vermelha recomenda: mantenha os hábitos de higiene pessoal de forma ainda mais intensa e responsável; faça uso adequado da máscara; tire os sapatos antes de entrar em ambiente fechado, mas PRINCIPALMENTE, NÃO DEIXE QUE O MEDO ENTRE EM SUA CABEÇA. “O medo cria pânico e torna-se num mal maior que o vírus”.
Cara e coroa: tudo tem dois lados
Apesar das inúmeras dificuldades e tristezas do momento, alguns efeitos positivos começam a ser notados por causa desse tempo de confinamento e redução do ritmo desenfreado a que vínhamos nos submetendo (e subjugando o planeta ).
- A poluição sonora diminuiu, assim como a poluição do ar (com menos carros e ônibus circulando diariamente pelas ruas). A Consciência do ‘não desperdício’ e do descarte mais responsável resultou até na purificação das águas de muitos rios e lagos e até do mar, fazendo proliferar o número de peixes e seres aquáticos como a muito tempo não se via;
- A solidariedade ganhou proporções significativas por todo o globo terrestre – das pequenas cidade às grandes metrópoles – com jovens se oferecendo para ir às compras de mantimentos para seus vizinhos idosos confinados, em nome de maior proteção para todos. Ouvem-se músicas e poemas nas varandas e janelas, serenatas diurnas para a vizinhança que, tantas vezes, era formada por desconhecidos.
Mesmo que ainda não tenhamos a plena compreensão do que se trata o tal do coronavírus, mesmo que a vacina ainda não tenha sido descoberta e não esteja disponível para as populações, mesmo que ainda tenhamos que conviver por algum tempo com essa “sombra” que nos ameaça, mesmo que ainda tenhamos que aguardar mais algum tempo para retornar aos abraços, aos passeios e à roda de amizades, é fundamental que busquemos ver uma outra vertente que toda essa grande questão nos pegou de surpresa.
Podemos ser maiores e melhores que as dificuldades e sairemos fortalecidos desta experiência, mais amadurecidos – mesmo que soframos algumas perdas, mesmo que vivamos o sofrimento gerado por uma ausência de um ente querido. Sairemos consolidados e mais conscientes da nossa humanidade, da nossa finitude, com princípios e valores reformulados, mais unidos e solidários pela dor e no amor e no respeito uns pelos outros.
Portanto, encontremos propósito, busquemos oportunidades e positividade, para que toda essa movimentação seja RENOVADORA E TRANSFORMADORA!
Saúde e paz!!!
C– convivência limitada, mas não impossibilitada. Criação de novas formas de encontro;
O– oportunidade de reinventar-se/ aprender/ expandir o olhar;
V– vida e vivências adaptadas a um novo modo e um novo tempo e contexto social, familiar e pessoal;
I– isolamento social gerando a oportunidade de introspecção e ressignificação da própria identidade;
D– direitos e deveres associando o bem estar pessoal e desejando o bem comum, desenvolvendo novas habilidades.
Por Vanessa Torres – Representante 60+
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