Quantas versões cabem em uma história? Se mais de uma pessoa presenciar um mesmo acontecimento e cada uma contar o que viu, teremos diversas versões ou, pelo menos, elas não serão idênticas. E ainda, se uma mesma pessoa presenciar um mesmo acontecimento em diferentes momentos da vida, pode acontecer de, com o passar do tempo, ela contar variadas versões do que ocorreu. Isso porque a forma como é observado, os afetos despertados e as experiências anteriores ao acontecido impactam na construção da história de cada um. E é contando para um outro que a melhor versão costuma surgir.
Alguns irão dizer: “Ah, melhor não contar! O outro não entende exatamente o que digo, e isso pode gerar desentendimento e confusão.” Verdade, compartilhar uma história é tolerar alguns ruídos e aceitar os limites de uma conversa, já que não temos garantias de que quem nos ouve entenderá exatamente como nós o que foi dito. Mas evitar a partilha é privar-se do encontro e do alcance possível. Neste caso, não permitir que o outro tome conhecimento da história é empobrecer a própria vida do tesouro da comunicação.
Outros podem pensar: “Estou satisfeito com meus pensamentos, com a minha versão única e individual da história.” E com isso, se impede de criar novas e mais bonitas versões. Quantas vezes é no empenho de compartilhar uma história que damos a algum ponto dela mais atenção; que nos reconciliamos com um trecho ressentido; que nos perdoamos pelo que não pode ser; que legitimamos uma dor ou uma satisfação; que transformamos aquela velha versão, empoeirada na lembrança, em uma nova lição para lidar com um desafio do presente.
Permitir que alguém testemunhe nossa história de vida é ter a chance de cuidar de feridas antigas, de enfeitar um trecho da vida e fazer-se presente mesmo quando o tempo passar, a distância geográfica separar, a condição da memória mudar, a vida transmutar. E essa mensagem tiver chegado aí como um convite, como um motivo para se permitir encontrar um tesouro na comunicação. Compartilhe com a gente a sua história!
Texto escrito por Vanessa Biscardi.
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