Aborda como as relações sociais são imprescindíveis para o ser humano e como, por meio delas, se estabelecem vínculos de cuidado, encontro de gerações e participação social.

Cuidado na longevidade

Leia: O CUIDADO COMO DIREITO

Escrito por Mariane Coimbra e Natália Horta 

Neste blog, já falamos sobre muitos temas relacionados ao cuidado. 

Se tudo der certo, vamos envelhecer. Isso significa que tivemos acesso a cuidados ao longo da vida. Quanto mais envelhecemos, mais eles vão se tornando uma presença constante nas nossas vidas. 

Neste texto, vamos tratar do cuidado enquanto um direito de cidadania. Vários países estão empenhados em construir políticas voltadas para ele, inclusive o Brasil. A Organização Mundial de Saúde apresenta e define a Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030) com o propósito de promover o envelhecimento saudável e melhorar a vida das pessoas idosas, de suas famílias e comunidades. Para isso, serão necessárias mudanças fundamentais nas ações que tomamos e na forma como pensamos a idade, o envelhecimento e o cuidado.

A Década do Envelhecimento Saudável 2021-2030 tem como visão um mundo no qual todas as pessoas possam ter vidas longas e saudáveis,  seguindo as prioridades do Plano de Ação Internacional sobre Envelhecimento de Madri e as perspectivas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de não deixar ninguém para trás.

A Década está baseada em quatro áreas de ação: 

  • Mudar a forma como pensamos, sentimos e agimos com relação à idade e ao envelhecimento – isto é, enfrentar o idadismo ou etarismo (preconceito contra a idade e o envelhecimento), construindo uma sociedade em que as pessoas idosas podem ter acesso à rede de cuidado sem nenhum tipo de discriminação.
  • Garantir que comunidades promovam as capacidades das pessoas idosas – ou seja, ambientes amigáveis ao envelhecimento, investindo em segurança e infraestrutura. 
  • Entregar serviços de cuidados integrados e de atenção primária à saúde, centrados e adequados à pessoa idosa. Aqui, o cuidado acontece conforme as necessidades das pessoas idosas, mantendo sua autonomia, independência e boas condições de saúde. 
  • Propiciar o acesso a cuidados de longo prazo às pessoas idosas que necessitem. 

As quatro áreas são estritamente interligadas e propõem uma nova perspectiva para o cuidado. 

Para alcançar esses pilares, prevê-se adaptações e investimentos apropriados para a promoção do envelhecimento saudável, incluindo serviços de saúde e assistência social integrados. Além disso, ambientes que incluam a pessoa idosa, gerando benefícios como melhor saúde e nutrição, habilidades e conhecimentos, conexão social, segurança pessoal e financeira e dignidade pessoal. Também será muito importante criar e incluir as inovações digitais, científicas e tecnológicas desenvolvidas para promover o envelhecimento saudável. Da mesma forma, envolver vários grupos da sociedade civil, da comunidade e do setor privado na criação e entrega de políticas e programas, especialmente aqueles voltados para os grupos mais vulneráveis, excluídos e marginalizados, que precisam de um olhar diferenciado no que tange a oferta de cuidados.

Sabendo que o cuidado é um direito de cidadania, garantido pelo Estatuto da Pessoa Idosa, é fundamental criarmos desde cedo uma cultura do cuidado. Devemos compartilhar informações, proporcionar trocas intergeracionais, combater o etarismo e proporcionar o cuidado para quem precisa e ao longo de toda a vida. Assim, podemos  chegar à velhice de forma ativa e saudável, como propõe a Década do Envelhecimento Saudável.

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REFERÊNCIAS:

Década do envelhecimento saudável nas Américas 92021-2030) Disponível em: https://www.paho.org/pt/decada-do-envelhecimento-saudavel-nas-americas-2021-2030#:~:text=A%20D%C3%A9cada%20do%20Envelhecimento%20Saud%C3%A1vel,sociedade%20para%20todas%20as%20idades.

PARA SABER MAIS:

 

Relação familiar e cuidado
Leia: RELAÇÕES FAMILIARES E CUIDADO
Escrito por Mariane Coimbra e Natália Horta 

O conceito de família é amplo, comporta uma infinidade de configurações e não cabe juízo de valor sobre o que é certo ou errado.  É no espaço familiar que se iniciam as relações sociais que impactam diretamente no desenvolvimento do ser humano ao longo da vida. 

A família é um suporte social significativo para as pessoas idosas. A proteção e o cuidado aos 60+ devem ser considerados como norma estruturante da parentalidade, com respeito ao direito de convívio familiar que proporcionará dignidade. O cuidado é uma condição básica para a vida e se dá em nosso cotidiano, seja pelo autocuidado, seja pela relação com o outro, incluindo o contexto familiar. 

Sabe-se que é justamente na dependência de cuidados que ele se torna evidente. Entretanto, essa tarefa é desafiadora para muitas famílias, e torna-se ainda mais difícil quando a pessoa idosa tem limitações físicas ou psíquicas que afetam a autonomia e a independência para as atividades da vida diária.

Relações familiares e Cuidado com o Idoso

Mas a quem de fato cabe o cuidado da pessoa idosa? Cabe à família, à sociedade e ao Estado. Segundo a Constituição Federal de 1988, o Estado também tem responsabilidade na proteção das pessoas idosas. Porém, do ponto de vista prático, as políticas públicas existentes ainda são insuficientes e não conseguem ofertar retaguarda e serviços que possam aliviar a carga gerada pelo cuidado, deixando a responsabilidade a cargo da família. Por isso, é tão relevante a implementação de uma Política Nacional de Cuidados em nosso país que inclua as necessidades da pessoa idosa e de sua família. 

A tarefa do cuidado, especialmente na dependência, traz desafios e exige que as famílias se adaptem e reorganizem as rotinas nessa etapa da vida. Um ponto-chave é a definição de um cuidador para apoiar a pessoa idosa em suas atividades, que pode tanto ser um familiar ou amigo quanto um profissional remunerado para cumprir essa função. Porém, como o cuidado não se resume apenas a uma ajuda para as limitações diárias e vai mais além da atenção às necessidades básicas, é necessário haver uma boa convivência entre o cuidador e a pessoa idosa e com a família na totalidade.

Como orientação às famílias e cuidadores, a Associação Garden Ville de São Paulo faz algumas recomendações que podem ajudar na prática do cuidado com idosos. São elas:  

  • buscar uma comunicação transparente, incentivando as pessoas idosas a expressarem seus sentimentos e desejos; 
  • tomar decisões de forma colaborativa e envolver o familiar idoso nas decisões relacionadas à sua vida; 
  • realizar planejamento antecipado de temas delicados, como cuidados de saúde, testamentos e planos de longo prazo; 
  • respeitar a autonomia e decisões das pessoas idosas sempre que for possível; 
  • dar transparência às responsabilidades familiares e distribuição de tarefas de cuidado entre os membros da família; 
  • incentivar a participação de toda família nos cuidados e na tomada de decisões; 
  • buscar apoio e orientações de profissionais, de grupos de apoio ou de serviços de aconselhamento familiar; 
  • resolver construtivamente os conflitos familiares, focando em soluções e não em culpas; 
  • promover a inclusão social para encorajar a participação em grupos de lazer, eventos comunitários e interações sociais.  

São medidas simples, mas se forem incorporadas na rotina, podem facilitar os relacionamentos. 

E você? Como está organizando sua vida para a longevidade? Sua família está incluída no projeto? Seus vínculos estabelecidos podem ser melhorados? Há vínculos que foram abandonados e que possam ser retomados? Há algum ponto conflituoso da relação com sua família que precisa ser revisto e ressignificado? Como você tem se cuidado na atualidade de modo a impactar na qualidade da sua longevidade? 

Lembre-se que as relações familiares e sociais são construídas ao longo do tempo e o fortalecimento dos vínculos depende do investimento feito nesse processo. 

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REFERÊNCIAS

Tome Pina, S. C. T., Coelho, A. P. de F., Torres, J. C., & Teixeira, A. B. (2017). O papel da família e do Estado na proteção do idoso. Ciência ET Praxis, 9(18), 35–40. Recuperado de https://revista.uemg.br/index.php/praxys/article/view/2532

Areosa, Silvia Coutinho, Lisianne Brittes Benitez, e Francisca Maria Assmann Wichmann. Relações Familiares E O Convivívio Social Entre Idosos. 2012

Figueiredo, T. E. . (2020). Envelhecimento e família: reflexões sobre a responsabilização familiar, os desafios às políticas sociais e a regulamentação da profissão de cuidador de pessoa idosa. Journal Archives of Health, 1(3), 101–110. https://doi.org/10.46919/archv1n3-003

Garden Ville. Família e Idosos. Relações familiares na terceira idade. Disponível em: https://gardenvillesp.com.br/familia-e-idosos-relacoes-familiares-na-terceira-idade/

PINTO, Liz Coe Gurgel Lima. RÓSEO, Fabianne Ferreira Costa. Envelhecer com Saúde: O Desafio do Cuidar Humanizado. Revista Interfaces da Saúde. Acacali – CE. 2014

PARA SABER MAIS:

PodCast- Economia do Cuidado: o trabalho invisível. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/1mQ26Px6KwzFLCdUJaRFXB?si=vWj1DZwCQnS5cy_wmvRz8Q

LEME, Vanessa Barbosa Romera; FALCÃO, Amanda Oliveira. MORAIS, Gisele Aparecida de; Braz, Ana Carolina; COIMBRA, Susana; FERNANDES, Luana de Mendonça. (2016). Solidariedade Intergeracional Familiar nas pesquisas brasileiras. Revista da SPAGESP, São Paulo, v. 17(2), 37-52. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702016000200004

BRASIL. Guia para Implementação de Boas Práticas e Programas Intergeracionais / Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. – 1ª. ed. – Brasília: Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, 2022. p.26-41. Disponível em: https://www.gov.br/participamaisbrasil/blob/baixar/21389

Livro: Família, rede de suporte social e idosos. Marisa Accioly e Yeda Duarte. Disponível em: https://openaccess.blucher.com.br/download-pdf/452

Documentário: Alzheimer na Periferia. Disponível em:  https://www.youtube.com/watch?v=sNg54_B8UBE

 

Intergeracionalidade

Leia: ENCONTROS ENTRE GERAÇÕES: UM NOVO OLHAR PARA AS RELAÇÕES NA VELHICE
Escrito por Mariane Coimbra e Natália Horta

Em 2020, pela primeira vez na história da humanidade, o mundo passou a ter mais avós que netos. O número de pessoas idosas (60 anos ou mais) foi maior que o de crianças menores de 5 anos. A tendência é que essa diferença continue a aumentar, esperando para 2050 que haja o dobro de pessoas idosas em relação ao número de crianças menores de 5 anos, e que haja mais pessoas idosas que adolescentes e jovens entre 15 e 24 anos. Essa perspectiva mundial também acontecerá no Brasil e as projeções indicam que os mais jovens (0-14 anos) representarão, em 2050, aproximadamente 13% da população, ao passo que os idosos, cerca de 30% da população – um encontro entre gerações. 

Uma população mais idosa é um sinal de longevidade. Em um contexto marcado por tantas desigualdades como o brasileiro, essa conquista demanda estratégias em todos os estágios da vida. Além disso, requer maior investimento e priorização do Estado e da sociedade civil em relação às políticas públicas e à garantia de direitos, especialmente das pessoas idosas. Na mesma direção, a Assembleia Geral das Nações Unidas instituiu a década do Envelhecimento Saudável 2021-2030, chamando governos, sociedade civil, organizações internacionais, profissionais, instituições acadêmicas, mídia e setor privado para agir sinergicamente e melhorar a vida das pessoas idosas, das suas famílias e comunidades.  

Haverá mais pessoas idosas que conviverão com pessoas de diferentes gerações, tanto em nível familiar e comunitário quanto na sociedade. Mais do que nunca, o lema do Plano de Madrid “Construir uma sociedade para todas as idades” cresce em importância. Precisamos criar e favorecer oportunidades de relações entre diferentes gerações, capazes de romper as múltiplas barreiras que impedem que nossa sociedade seja realmente para todos e para todas as idades (SÁNCHEZ et al., 2007). 

A intergeracionalidade, compreendida como encontro e partilhada entre pessoas de diferentes gerações, é recomendada tanto em nível familiar quanto comunitário e em toda sociedade, construída com base em valores como a interdependência, a solidariedade e a reciprocidade. Portanto, indo muito além de reunir diferentes gerações em um mesmo espaço. Dentro de um grupo, a intergeracionalidade pode ser um meio para desenvolver e aproveitar as potencialidades de todos, enquanto um lugar de vida, e não apenas relativo às relações e interações (SANCHEZ, 2007).

As práticas intergeracionais podem contribuir significativamente para um mundo mais justo e digno para as pessoas de todas as idades viverem de modo mais saudável e com mais bem-estar. Elas propiciam que as crianças, os jovens e os adultos envelheçam como sujeitos, não só recebendo o suporte que precisam, mas também contribuindo para a comunidade. A conexão entre as pessoas é parte essencial do bem-estar e impacta na coesão social e na qualidade de vida das pessoas, das famílias e da comunidade de modo geral. Nosso convite é para que você diga “sim” quando alguém convidar para experimentar algo com outras gerações, seja de gerações mais novas, seja de gerações mais velhas. Além disso, para que você convide pessoas mais jovens para conviver e trocar ideias com você. Afinal, na vida, somos todos aprendizes!

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REFERÊNCIA:

SANCHÉZ, M. (org). Programas intergeracionales: hacia una sociedad para todas las edades. Colección Estudios Sociales, n. 23. 2007. 265p. Disponível em: https://www.researchgate.net/ publication/242498227_Programas_intergeneracionales_Hacia_una_sociedad_para_todas_las_edades

PARA SABER MAIS:

-Guia para Implementação de Boas Práticas e Programas Intergeracionais do Ministério  da Mulher, da Família e dos Direitos humanos. Disponível em: https://www.gov.br/participamaisbrasil/blob/baixar/21389

Artigos:

— Programas intergeracionais: quão relevantes eles podem ser para a sociedade brasileira?  FRANÇA, L.; SILVA, A. BARRETO,M. REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., RIO DE JANEIRO, 2010; 13(3):519-531. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/55DRHDsYnS4CQ3SNKrLkYvQ/abstract/?lang=pt

— Relações intergeracionais e reconstrução do Estado de bem-estar: por que se deve repensar essa relação para o Brasil? GOLDANI, A. M. In: CAMARANO, A. A. (Org.). Os novos idosos brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro: Ipea, 2004. p. 211-250. Disponível em: https://portalantigo.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/Arq_14_Cap_07.pdf

— WHO, 2023. Connecting generations: planning and implementing interventions for intergenerational contact. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240070264

— Revista do SESC; Intergeracionalidade: prevenção ao idadismo e construção de uma sociedade para todas as idades. 

Autores: Ingrid Rochelle, Rêgo Nogueira, Adriana Costa Batista

Disponível em: https://www.sescdf.com.br/documents/20123/287712/674_Intergeracionalidade.pdf/13fd9cbd-39b4-665e-8693-15de2a9143cd

 

Direitos da Pessoa Idosa

Leia: DIREITOS DA PESSOA IDOSA
Escrito por Mariane Coimbra e Solange Braz 

A política pública permite distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que, de fato, faz. A política pública envolve vários atores e níveis de decisão, embora seja materializada através dos governos, e não necessariamente se restringe a participantes formais, já que os informais são também importantes. A política pública é abrangente e não se limita a leis e regras. A política pública é uma ação intencional, com objetivos a serem alcançados. A política pública, embora tenha impactos no curto prazo, é uma política de longo prazo. A política pública envolve processos subsequentes após sua decisão e proposição, ou seja, implica também implementação, execução e avaliação. (Souza, 2006, p. 36-7)

Você pode estar pensando: “o que os direitos da pessoa idosa têm a ver com política?”

Surpresa! O direito de qualquer pessoa tem tudo a ver com política!

A garantia dos direitos da pessoa idosa na Constituição Federal de 1988 está expressa em diversos artigos. Eles versam sobre irredutibilidade dos salários de aposentadoria e pensões, garantia do amparo pelos filhos, gratuidade nos transportes coletivos e benefício de um salário mínimo para aqueles sem condições de sustento, entre outros.

Para cada direito estabelecido nas leis, alguém tem um dever a cumprir. Esse alguém é a outra parte da questão. Nossa forma de lidar com a política pode nos levar a confundir Estado e governo, ou ainda pior, confundir política e políticos. 

Vamos entender um pouco as diferenças entre política, políticos, Estado e governo:

  • Política é a arte do diálogo, da busca pelo consenso e pela construção do bem comum. 
  • Políticos são as pessoas eleitas para defender e construir o bem comum. 
  • Estado é toda a sociedade política, incluindo o governo. 
  • Governo é o grupo político que está no comando de um Estado. 

O Estado tem as funções Executiva, Legislativa e Judiciária. Portanto, o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas Estaduais e as Câmaras de Vereadores fazem parte do Poder Legislativo do Estado brasileiro. Todo o sistema de justiça – Varas de Justiça, Tribunais Regionais e o Supremo Tribunal Federal compõem o Poder Judiciário do Estado brasileiro. O Presidente da República, os ministros, os governadores e secretários estaduais, os prefeitos e secretários municipais formam o Poder Executivo do Estado brasileiro. O Ministério Público é o órgão responsável, perante o Poder Judiciário, pela defesa da ordem jurídica e dos interesses da sociedade e pela fiel observância da Constituição e de todas as leis.

De um lado, o Estado brasileiro formula e publica leis que asseguram direitos sociais aos idosos, especificando as condições necessárias para promover sua autonomia, integração e participação na sociedade. De outro, o próprio Estado promove um imaginário que aterroriza as pessoas  idosas, pois as coloca como responsáveis pelos desequilíbrios da Previdência, das políticas sociais e de saúde. Além disso, o próprio Estado é grande violador de direitos sociais. Afinal, as políticas que deveriam estar disponíveis, acessíveis e de qualidade para as pessoas idosas ainda são muito insuficientes.

O que explica tal inoperância do Estado? Seria a falta de leis que o obrigassem a intervir? 

Para a Karla Giacomin, que escreveu um livro sobre o tema, não. Falta a materialização das leis existentes em políticas públicas de proteção social, de Saúde, da Assistência Social, da Previdência Social, de Transporte, da Justiça, de Segurança Pública, da Cultura, entre outras. Diferentemente de outros públicos que contam com programas e ações concretos e estabelecidos, o público idoso ainda precisa ser notado na sua especificidade. O que explicaria essa invisibilidade?

Aqui, adentramos em uma questão de fundo: a resistência velada da sociedade brasileira diante da perspectiva de envelhecer. Envelhecer como um ribeirinho da Amazônia, um sertanejo nordestino, um morador em situação de rua da metrópole ou um gaúcho dos Pampas, são experiências muito diversas que demandam respostas diferentes das políticas públicas. Além disso, em nosso país, a juventude deixou de ser uma etapa da vida para se tornar um valor a ser perseguido. É como se os direitos na velhice fossem um problema de cada um e não uma questão social relevante para o Estado brasileiro.

Essa situação revela a cultura de uma sociedade, fundada em valores de consumo e individualistas. Para superar isso, a autora Mírian Goldenberg afirma: 

“só assumindo consciente e plenamente, em todas as fases da vida, que nós também somos ou seremos velhos, podemos ajudar a derrubar os medos, os estereótipos e os preconceitos existentes sobre a velhice. (…) Somos nós os principais interessados em uma transformação radical dessa realidade, seja qual for a nossa idade cronológica. Cada um de nós, mesmo os muito jovens, deveria se reconhecer no velho que é hoje ou no velho que será amanhã: velho não é o outro, velho sou eu” (GOLDENBERG, 2013, págs. 27 e 28). 

E você? Como pode contribuir para a efetivação dos direitos da pessoa idosa? Você conhece esses direitos?

Vamos refletir sobre isso?

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REFERÊNCIA:

GOLDENBERG, M. A bela velhice. Rio de Janeiro: Record; 2013.

SOUZA, Celina. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, p. 20-45, 2006.

 

PARA SABER MAIS:

– Livro: Política Nacional do Idoso: velhas e novas questões.

Autores: Alcântara, A. D. O. O., Camarano, A. A. O., & Giacomin, K. C. O. (2016). Política Nacional do Idoso: velhas e novas questões. 

Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/7253 

– site do CEMAIS: https://cemais.org.br/

-Estatuto da Pessoa idosa comentado. Disponível em: https://social.mg.gov.br/images/Docs2023/cartilha_estatuto-comentado_bora-nos-unir.pdf

Engajamento social

Leia: ENGAJAMENTO SOCIAL E SUA IMPORTÂNCIA NA LONGEVIDADE

Escrito por Mariane Coimbra e Solange Braz 

Em 2002, representantes do mundo todo se reuniram em Madri, na II Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, para estabelecer um Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento. O objetivo foi “responder às oportunidades que oferece e aos desafios feitos pelo envelhecimento da população no século XXI e promover o desenvolvimento de uma sociedade para todas as idades”.

A proposta do Plano enfatiza o estímulo à participação ativa das pessoas idosas na sociedade, tanto para aumentar o bem-estar pessoal quanto para reduzir o isolamento. Durante a pandemia da Covid-19, nós pudemos sentir o quanto o isolamento e a solidão repercutem negativamente na nossa saúde física e mental. Há muitas possibilidades para apoiar a participação social de uma pessoa idosa: atividades sociais, econômicas, culturais, esportivas, recreativas e de voluntariado são alguns dos exemplos que podemos citar. 

Em 2005, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou o texto “Envelhecimento Ativo: uma política de saúde”. Nele, o envelhecimento ativo é definido como o “processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”. Aqui, a palavra “ativo” se refere à participação contínua da pessoa idosa nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não apenas a capacidade de estar fisicamente ativo ou trabalhando. Além disso, o texto ainda aponta a necessidade de viabilizar transporte público, envolver as pessoas idosas no planejamento e implementação das ações de saúde e sociais, fornecer apoio financeiro e incentivar atividades intergeracionais.

A participação social, focada na solidariedade entre gerações, refere-se ao apoio mútuo e à cooperação entre diferentes faixas etárias. O objetivo é alcançar uma sociedade na qual todas as pessoas, de todas as idades, tenham um papel a desempenhar de acordo com suas necessidades e capacidades. Assim, em 2020, a Organização das Nações Unidas publicou e a Organização Pan-Americana de Saúde divulgou um plano de ação para uma Década do Envelhecimento Saudável 2021–2030 como forma de reconstruir e promover o envelhecimento saudável, por meio de quatro ações principais:

  • mudar a forma de se pensar, sentir e agir em relação à idade e ao envelhecimento;
  • garantir que as comunidades promovam as habilidades dos idosos;
  • oferecer cuidados integrados e serviços primários de saúde que atendam às necessidades das pessoas idosas;
  • fornecer acesso aos cuidados de longa duração aos idosos que deles precisam.

Recentemente, em 2021, a Organização Pan-Americana de Saúde lançou o documento intitulado “Construindo a Saúde no Curso de Vida: conceitos, implicações e aplicação em Saúde Pública”, direcionado a profissionais de saúde e formuladores de políticas. Esse documento apresenta a necessidade de pensar e agir de forma diferente, diante da realidade vivenciada pela população idosa.  Portanto, a participação social da pessoa idosa é reconhecida atualmente como uma condição fundamental para um modo de vida ativo e saudável.

Os termos “participação”, “envolvimento” e “engajamento social” são sinônimos e podem ser definidos como o envolvimento em atividades que possibilitam interação com outras pessoas na sociedade ou na comunidade. Esse engajamento é benéfico para o bem-estar das pessoas idosas, favorece ou possibilita seu acesso aos recursos disponíveis, promove um senso de propósito e aumenta a motivação dessas pessoas para o autocuidado com a saúde. Essa integração social amplia o fluxo de informações relacionadas às boas práticas de saúde, encorajando o uso dos serviços de saúde disponíveis. São muitos os benefícios do Engajamento social para a pessoa idosa. Alguns estão apresentados a seguir:

Psicológicos: 

  • melhor autoavaliação de saúde;
  • melhor qualidade de vida;
  • bem-estar;
  • boa saúde emocional e afetiva;
  • declínio de sintomas depressivos;
  • prevenção e redução do declínio cognitivo.

Suporte social:

  • contribuição para com a sociedade;
  • sentimento de utilidade;
  • solidariedade;
  • compartilhamento de saberes e experiências;
  • estímulo de hábitos de vida saudáveis;
  • fortalecimento da rede de apoio.

Saúde física

  • menor risco de desenvolver problemas de saúde;
  • proteção contra perdas na funcionalidade física;
  • redução da morbimortalidade.

Algumas razões podem levar uma pessoa idosa ao desengajamento social, especialmente problemas de saúde física relacionados à mobilidade, que impactam na independência para tarefas cotidianas; as dificuldades de acesso aos ambientes públicos — restrição da participação em atividades que sejam praticadas próximo de casa ou mesmo dentro dela, reduzindo, assim, o contato social da pessoa idosa; incapacidade funcional; ou quando há qualquer tipo de impedimento ou discriminação pelo fato da idade ou de alguma deficiência física. 

Fica a dica: participe e se engaje mais na sua comunidade! Acesse os outros conteúdos do pilar de conhecimento Vida Social, aqui.

REFERÊNCIAS:

Brasil. Ministério da Justiça. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Plano de ação internacional sobre o envelhecimento. Brasília: SEDH; 2003. Disponível em: http://www.observatorionacionaldoidoso.fiocruz.br/biblioteca/_manual/5.pdf.

Organização Mundial da Saúde. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: OPAS; 2005. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/envelhecimento_ativo.pdf.

Organização Pan-Americana de Saúde. Construindo a saúde no curso de vida: conceitos, implicações e aplicação em saúde pública. Washington: OPAS; 2021. Disponível em: https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/53571/9789275723029_por.pdf?sequence=1&isAllowed=y.

PARA SABER MAIS:

Envelhecimento ativo e engajamento social em idosos.  Disponível em: https://compareplanodesaude.com.br/planos-de-saude-senior/orientacao-e-suporte/envelhecimento-ativo-engajamento-social-idosos/#:~:text=O%20envelhecimento%20ativo%20e%20o,sa%C3%BAde%20f%C3%ADsica%2C%20mental%20e%20emocional.

Portal do envelhecimento e longeviver: 

  • Engajamento social e voluntariado no tempo da velhice.

Autora: Claudia Soares de Oliveira

Disponível em: https://portaldoenvelhecimento.com.br/engajamento-social-e-voluntariado-no-tempo-da-velhice/

  • Engajamento cívico de pessoas idosas

Autor: Antonio Carlos Will Ludwig

Disponível em: https://portaldoenvelhecimento.com.br/engajamento-civico-de-pessoas-idosas/

Blog Seniornote: Engajamento social para idosos: mantenha-se conectado com seniornote. Disponível em: https://fastercapital.com/pt/contente/Engajamento-social-para-idosos–Mantenha–se-conectado-com-seniornote.html

Década do envelhecimento saudável. Disponível em: https://www.paho.org/pt/decada-do-envelhecimento-saudavel-nas-americas-2021-2030#:~:text=A%20D%C3%A9cada%20do%20Envelhecimento%20Saud%C3%A1vel,sociedade%20para%20todas%20as%20idades.

 

Cultura, Esporte e Lazer

Leia: O LAZER, A CULTURA E O ESPORTE COMO PRÁTICAS PARA UM ENVELHECIMENTO ATIVO

Escrito por Mariane Coimbra e Solange Braz

Segundo o psicólogo José Carlos Ferrigno, o termo lazer tem sua origem no verbo latino “licere”, que significa ser possível, permitido, lícito, e tem relação com a liberação de obrigações, possibilitando o exercício de atividades entendidas como de lazer. 

No cotidiano da pessoa idosa, o lazer diz respeito à ocupação do tempo livre sem preocupação remuneratória. É uma oportunidade que pode surgir após uma longa jornada de trabalho produtivo, quando se espera que o processo de aposentadoria esteja concretizado ou em andamento e que a pessoa tenha mais tempo para realizar coisas que dão prazer e que não teve tempo para fazer em outras etapas da vida.

As pessoas idosas costumam escolher algumas atividades cotidianas com opções de lazer. Por exemplo, fazer passeios e viagens com a família e com  amigos, frequentar salas de cinema ou de teatro, realizar caminhadas em espaços públicos, praticar atividades físicas em grupo, assistir a programas de televisão, ler, pintar, desenhar, escutar música e ir a espetáculos artísticos.  Também é possível a participação em grupos de dança e de leitura e espaços para disputas de  jogos tradicionais, como cartas e dominó, o que contribui com a criação de laços afetivos e relações de amizade.

Você faz alguma dessas atividades? Como está programando os próximos passos para ampliar suas opções de lazer?

Seja qual for a atividade escolhida, o lazer tem a possibilidade de propiciar diversos benefícios, como: estimular a capacidade cognitiva, contribuir para a saúde mental,  manter a funcionalidade do corpo, estimular a convivência social e fortalecer os vínculos e encontros com outras pessoas. É uma forma de manter uma vida ativa e com sentido, repercutindo diretamente na qualidade de vida e bem-estar. Estudos apontam que a prática de atividades prazerosas em pessoas  idosas atua na prevenção e superação de desordens psicológicas, ajuda a lidar com os efeitos negativos de perda de funcionalidade, viuvez e pouco contato familiar, com contribuições para o bem-estar físico e psicológico de forma geral.

A Política Nacional do Idoso destaca o direito de acesso aos locais e eventos culturais, mediante preços reduzidos e aos programas de lazer, esporte e atividades físicas. Existe, hoje, uma gama de oportunidades culturais para que a pessoa idosa possa participar de eventos, acessar programações artísticas, visitar museus, teatros, cinemas e outros espaços que contribuam para ampliar seu repertório de conhecimentos e socialização. Muitas pessoas, quando chegam nessa fase da vida, acabam se tornando pessoas solitárias, se isolam e podem até mesmo entrar em depressão. Entretanto, quando conseguem participar das atividades culturais nos eventos locais de sua comunidade, têm a chance de resgatar o seu papel na sociedade, além de evitar ficar em segundo plano, se sentindo abandonado e frustrado.

Você acessa frequentemente as redes sociais para saber quais as opções culturais estão disponíveis em sua cidade?

Envelhecimento ativo

Na perspectiva de se cuidar e ocupar o tempo livre na terceira idade, é necessário destacar também que a prática de atividade física e de esportes tem se tornado cada vez mais valorizada. Os estudos científicos apontam que praticar atividade física em idades mais avançadas pode melhorar o estado geral de saúde e trazer benefícios na socialização.  O Ministério da Saúde divulga informações sobre espaços de atividade física no âmbito das políticas públicas. Além disso, reforça a ideia que a pessoa idosa mais ativa tem mais chance de manter a funcionalidade do corpo, reduzir dores articulares, sofrer menos com sintomas de ansiedade e depressão e manter ativas as funções de memória,  atenção e  concentração. Sem falar no controle e na prevenção das típicas doenças crônicas, como obesidade, hipertensão e diabetes. 

Dentre as atividades esportivas recomendadas para pessoas  idosas, estão: caminhada, natação, hidroginástica, pilates, yoga, musculação e outras tantas que podem ser praticadas conforme o desejo da pessoa. 

Identifique qual atividade esportiva se encaixa melhor ao seu perfil e a que mais lhe dá prazer. Considere também a modalidade que permita você alcançar mais saúde. Lembre-se que, além dos exercícios físicos, é importante manter a vida ativa em suas atividades cotidianas, como subir as escadas em vez de usar o elevador, ir a pé  em  pequenos trajetos em vez de usar o carro e evitar ficar muito tempo deitado ou sentado vendo TV.  

Abrace a ideia de transformar seu tempo em uma oportunidade para enriquecer a vida com novos aprendizados e experiências. Essas práticas de envelhecimento ativo podem ser uma estratégia importante para uma vida mais saudável, ativa e feliz. 

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REFERÊNCIAS

Brasil. Lei nº 8.842 , de 04 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 5 jan. 1994. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt2528_19_10_2006.html

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia de Atividade Física para a População Brasileira [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primária à Saúde, Departamento de Promoção da Saúde. – Brasília : Ministério da Saúde, 2021. 54 p. Disponível em:  file:///C:/Users/Paula/Desktop/Downloads/Guia%20de%20Atividade%20F%C3%ADsica%20para%20Popula%C3%A7%C3%A3o%20Brasileira.pdf

Blog Casa de Repouso Morada do sol. A importância das atividades culturais para a terceira idade. Disponível em:  https://casaderepousoemsaopaulo.com/blog/cuidado-com-idosos/a-importancia-das-atividades-culturais-para-a-terceira-idade/

FERREIRA, H.G., & Barham, E.J. (2011). O envolvimento de idosos em atividades prazerosas: revisão da literatura sobre instrumentos de aferição. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 14, 579-590.

FERRIGNO, J. C. O cidadão idoso: consumidor e produtor cultural. In: OLIVEIRA ALC NTARA A. O.; CAMARANO, A. A.; GIACOMIN, K. C. (Org.). Política Nacional do Idoso: velhas e novas questões. 1ed.Rio de Janeiro: IPEA, 2016, p. 343- 357.

 

PARA SABER MAIS: 

Artigos: 

 Livro:

 

Sites

  •       Site para consulta da agenda cultural de Belo Horizonte – https://belohorizontemg.com.br/agenda-cultural/
  •       Site para consulta da agenda cultural de Belo Horizonte – https://culturalizabh.com.br/
  •       Site para consulta da agenda cultural de Belo Horizonte -https://blog.somattos.com.br/atividades-para-idosos-bh-2019/
  •       Sugestão de visitas aos parques de Belo Horizonte – Exemplo de parques/projetos que ofertam gratuitamente atividade física par a pessoa idosa www.bomnabolabomnavida.com.br – Projeto Ser+Feliz desenvolvido nos espaços públicos, a maioria parques na região Oeste de Belo Horizonte.
  •       Jornalismo Novo Tempo | www.novotempo.com/jornalismo – matéria exibida em 27 de setembro de 2018 https://www.youtube.com/watch?v=oSPQzSAqJiU – Relato de esportistas da Terceira Idade.

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Metodologia de aprendizagem da Jornada Estar. Conexão entre os 4 núcleos de conhecimento da Rede Longevidade
Aborda a saúde de forma integral, considerando fatores físicos, mentais e emocionais, com ênfase na preservação da funcionalidade.

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Traz a lente da inovação no curso da vida com temas relacionados à tecnologia, moradia, ocupação do tempo e urbanismo, na perspectiva da inclusão da pessoa idosa na sociedade.

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Aborda a importância das relações sociais na construção de vínculos de cuidado, encontro de gerações, participação social e garantia de direitos.

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Contempla uma visão de vida holística, em que a base do conhecimento sobre longevidade é o conhecimento sobre si.

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