Vida Sou contempla uma visão de vida holística, em que a base do conhecimento sobre longevidade é o conhecimento sobre si.
Leia: Autoestima e cuidado de si
Por: Mariane Coimbra e Juliana Seidl
Quando ouvimos dizer que alguém “tem autoestima”, costumamos pensar em uma pessoa para cima, animada, que demonstra se amar! Porém, na verdade, não se trata exatamente disso. Autoestima se refere a uma avaliação subjetiva sobre si, que todos nós fazemos ao longo da vida. Essa avaliação pode ser tanto positiva quanto negativa, variando em diferentes contextos e situações.
A forma como nossa autoestima se constitui, ou seja, a maneira como avaliamos nossos próprios valores e características, impacta em várias esferas da vida, inclusive na maneira como nos relacionamos com a gente e com os outros.
Por isso, é muito importante que sejamos capazes de analisar e reconhecer como anda nossa autoestima. Mas o que é autoestima? Oliveira et.al (2019), define autoestima como os pensamentos e sentimentos que a pessoa tem sobre si mesma, o quanto a pessoa gosta de si, como se vê e o que pensa sobre si mesma.
Em outras palavras, a autoestima pode ser definida como a avaliação que uma pessoa faz de si mesma em relação a diferentes aspectos, como as escolhas feitas ao longo da vida, os conhecimentos adquiridos, qualidades e defeitos, realizações alcançadas ou não, relação com o próprio corpo. A autoestima traduz nossa capacidade de reconhecer e aceitar nossos pontos fortes e fracos, e de nos sentir bem com eles.
A maneira como lidamos com o nosso cuidado também é um bom indicativo de como está nossa autoestima. E o autocuidado é muito mais que cuidar do corpo, é cuidar em uma dimensão muito mais ampla, o cuidado de si. Este é um conceito do filósofo Foucault que nos ensina que cuidar de si é o olhar para si, se conhecer, ser responsável por suas ações, estar atento ao que se pensa. É o governar a própria vida, fazendo escolhas, mudando hábitos, refletindo sobre suas práticas diárias, reconhecendo seus limites, enfim é o voltar-se pra si e transformar-se. Ele diz ainda: cuidado de si é o cuidado com a própria alma, é a atividade de filosofar e a busca da felicidade (Foucault,2006) e deve ser realizada a vida inteira.
Seguindo essa lógica, uma pessoa que se vê como alguém valoroso, digno de amor, que acredita em seu próprio potencial, costuma demonstrar mais comportamentos de cuidado de si, como:
- cuidado com a saúde por meio de exercícios físicos, alimentação equilibrada, engajamento com os tratamentos médicos, nutricionais, psicológicos e outros, quando necessário;
- cuidado com a vida social, com o cultivo de boas relações, que estimulam a aprendizagem e o autodesenvolvimento;
- cuidado com as finanças, mantendo um equilíbrio entre gastar e poupar;
- cuidado com as emoções, sentimentos, afetos e sonhos;
- cuidado com as ações e palavras;
- cuidado para respeitar seus limites.
Esses são apenas alguns exemplos, pois o cuidado de si pode se expressar de maneiras diversas, conforme o que é mais relevante, o que acredita e que é significativo para cada um. É uma prática para a vida toda.
Você tem o hábito de observar como está sua autoestima? Percebe o que abala ou fortalece suas crenças sobre você mesmo? Tem clareza sobre as práticas de cuidado que fazem bem a você? Esse exercício reflexivo é importante e pode ajudar você a cultivar uma autoestima mais positiva!
REFERÊNCIAS:
Oliveira D, Ladeira Â, Giacomin L, Pivetta N, Antunes M, Batista R, et al. Depressão, autoestima e motivação de idosos para a prática de exercícios físicos. Psicol Saúde Doenças. 2019;20(3):803–12. https://doi.org/10.15309/19psd200319
Foucault, M. Hermenêutica do Sujeito. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. p. 4-239.
Isquierdo, G. Autoestima como hábito: Um guia da psicologia aplicada para sua autoestima e seus relacionamentos. São Paulo. Planeta, 2020. 256p.
PARA SABER MAIS::
Artigo “Autoestima baixa: como alcançar o amor-próprio?” por Tatiane Pimenta (CEO da Vittude Psicologia): https://www.vittude.com/blog/autoestima-baixa-como-alcancar-amor-proprio/#:~:text=A%20autoestima%20consiste%20em%20uma,%2C%20narcisismo%2C%20superioridade%20ou%20inferioridade
Podcast “Como desenvolver sua autoestima” por Alana Anijar (CEO da Psicologia na Prática): https://open.spotify.com/episode/31m4nYcn0xoEV1hXC25DN6?si=54822abed47f40f9
Livro “Autoestima como hábito: Um guia da psicologia aplicada para sua autoestima e seus relacionamentos” por Gislene Isquierdo https://www.amazon.com.br/Autoestima-como-h%C3%A1bito-psicologia-relacionamentos/dp/6555351586/
Livro “Caderno de Exercícios para Aumentar a Autoestima” por vários autores https://www.amazon.com.br/Caderno-exerc%C3%ADcios-para-aumentar-autoestima/dp/8532640087
Leia: Relação com o tempo
Escrito por Mariane Coimbra e Juliana Seidl
Passado, presente e futuro são importantes marcadores que criamos para nos situarmos no tempo e espaço. Eles influenciam a forma como tomamos decisões e nos relacionamos com a gente mesmo e com os outros. As divisões de horas, dias, meses, anos e as categorias de idade organizam o tempo e demarcam ciclos a serem vividos.
No contexto do aumento da expectativa de vida, a projeção de um tempo de vida mais amplo impacta, significativamente, na percepção das pessoas sobre os movimentos do passado, presente e futuro, especialmente naquilo que se refere às suas próprias trajetórias. De acordo com Fernanda Rougemont, do departamento de Antropologia Cultural da Universidade Federal do Rio de Janeiro, “a perspectiva da longevidade suscita uma maior preocupação em ter as condições necessárias para viver plenamente a vida em toda sua duração, sendo capaz de lidar com as mudanças físicas, psicológicas e sociais”. Por outro lado, a reflexão sobre a passagem do tempo também revisita a consciência sobre nossa finitude e daqueles que nos rodeiam.
Para que cada um compreenda como está sua relação com o tempo, é importante fazer perguntas investigativas que podem ajudar a clarear o cenário. Essa relação pode ser proveitosa e saudável,mas também pode ser sofrida e baseada na negação de sua passagem ou ainda pode apresentar outros significados e sentimentos.
Quais atividades fazem parte do seu dia a dia? Há variedade entre elas, envolvem várias dimensões da sua vida ou tem se concentrado em apenas algum aspecto específico (família, trabalho, autocuidado, lazer etc.)? Você sente que as atividades que ocupam a sua rotina, atualmente, estão levando você no sentido da construção de uma boa longevidade?
Segundo a psicanalista Vera Iaconelli, o ser humano é o único animal que consegue se deslocar em pensamento, tanto para o passado quanto para o futuro. Isso tem uma função bastante importante: nos permite acessar uma bagagem de experiências e conhecimentos que já aconteceram para planejar, prevenir e prever coisas que vão acontecer no futuro, mesmo que não totalmente dentro do controle.
Precisamos analisar constantemente o passado, fazer as pazes com ele, para desfrutar em plenitude o presente aceitando quem somos e, também, planejando nosso futuro.
De toda forma, o que se sabe sobre o tempo é que ele é um recurso precioso e limitado, e que seu uso precisa de cuidado e planejamento para ser, de fato, significativo.
Independentemente da idade, seja uma pessoa idosa, seja adulta, seja adolescente, seja criança, todos os cidadãos têm possibilidades de relacionar-se de forma positiva com o tempo. Para isso, deve-se utilizar os recursos de reflexão sobre passado e futuro e concentrar-se no agora para viver as melhores experiências e escolhas possíveis!
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REFERÊNCIAS:
Canal CNN Tonight: Episódio intitulado Nossa relação com o tempo: entre a ansiedade pelo futuro e a melancolia do passado.Disponível em: :https://www.youtube.com/watch?v=qOx3aJP2vrE
Rougemont,F. Redefinindo a passagem do tempo: estilo de vida e longevidade. Revista. Brasileira de Geriatria e Gerontologia., Rio de Janeiro, 2018; 21(6): 669-670. Disponível em: //www.scielo.br/j/rbgg/a/qBzDGFYtRQTCNddn7jCKzmf/?lang=pt&format=pdf
PARA SABER MAIS:
Documentário Netflix “Quanto Tempo o Tempo Tem”: https://www.netflix.com/br/title/80187187
Artigo “O que é cronomeritocracia?”Michele Prazeres: https://michelleprazeres.net/2023/08/22/voce-sabe-o-que-e-cronomeritocracia/
Podcast que entrevista Michelle Prazeres, idealizadora do Instituto Desacelera. Aqui vocês podem conhecer como o trabalho dela é incrível: https://open.spotify.com/episode/3dbNyBeuoCGcG5ZtgLDlEv?si=8cf45f4078ae430c
Artigos da Michelle disponível no link do blog: https://michelleprazeres.net/category/artigos/
Livro “Checklist”, por Atul Gawande, best-seller para melhorar sua gestão do tempo: https://www.amazon.com.br/Checklist-Como-fazer-coisas-bem-feitas/dp/655564561X
Livro “As coisas que você só vê quando desacelera: Como manter a calma em um mundo frenético” por Haemin Sunim https://www.amazon.com.br/coisas-que-voc%C3%AA-quando-desacelera/dp/8543105293
Episódio CNN Tonight “Nossa Relação com o Tempo” https://www.youtube.com/watch?v=qOx3aJP2vrE
Filme “Click” (2006) nos ajuda a enxergar os malefícios da aceleração da vida: https://www.primevideo.com/-/pt/detail/Click/0JP4ABY5N94U1I8SU5YC3MH375
Leia: História de vida
As experiências da vida deixam marcas na memória e contribuem para a formação da individualidade. Sua história de vida é sua marca no mundo.
Na vida madura, uma forma de resgatar nossas experiências é por meio da escrita e compartilhamento da nossa história de vida ou autobiografia. Nem sempre essa será uma tarefa fácil, mas o resultado pode fazer bem para nós e inspirar outras pessoas à nossa volta. Pausar a rotina e rever o caminho percorrido nos dá a chance não apenas de revisitar nosso passado, mas também de aprofundar o autoconhecimento, ressignificar o presente, criar perspectivas para o futuro e caminhar com maior segurança diante do que está por vir.
A trama da nossa história é formada por uma diversidade de vivências. Por exemplo, a origem e a convivência familiar, as relações estabelecidas com as pessoas em nossa volta, a trajetória escolar, a escolha profissional, a formação espiritual, as rotinas estabelecidas, os rituais, os momentos de alegria e celebração, as conquistas e as pequenas vitórias que dão orgulho. Há também os episódios de dores, frustrações, falhas, furos, lutos e lágrimas. Tudo que é vivido por cada um compõe uma bagagem que nos constitui e determina nossas escolhas, nossos projetos e desejos.
O relato da história de vida pode ser entendido como um processo de revisitar o que foi vivido e selecionar os fatos mais significativos. Esse exercício tem o benefício de resgatar fatos, vivências e histórias na essência subjetiva e, ao mesmo tempo, mobilizar a reflexão para a ressignificação do que foi vivido.
O trabalho de registro da história de vida pode ser feito de forma livre ou com um roteiro previamente estabelecido. O uso de fotografias de família e conversas com parentes e amigos próximos podem funcionar como mobilizadores de memórias e auxiliar na escrita dos relatos. É possível também fazer o registro como uma linha do tempo dos principais eventos da vida. Outras opções: fazer uma lista de histórias que gostaria de contar e escrever aos poucos; escrever em forma de lista, como cidades onde viveu, escolas que frequentou, músicas, livros e filmes favoritos; e tantos outros assuntos que você queira explorar.
Um exemplo prático de sistematização de autobiografia orientada é apresentado por Cecília Xavier, uma terapeuta ocupacional que conta sua própria história de vida a partir da técnica de dividir os assuntos em 10 grandes temas.
- Significado da minha vida, aspirações e ambições.
- História familiar e amigos.
- História de vida educacional.
- Histórico de trabalho, carreira e interesses pós-carreira.
- Relato da imagem que você tem do próprio corpo.
- Histórico da sua saúde.
- Relato da função do dinheiro.
- História dos seus amores e ódios.
- Relatos das suas experiências ou ideias sobre a morte.
- Estabelecimento de metas e aspirações para o futuro: projeto de vida para a aposentadoria.
Em publicação recente, o blog do FamilySearch destaca que, na captura da história pessoal, é importante começar de algum lugar, sem grande preocupação com a formalidade das regras ortográficas e de gramática. O fundamental é a autenticidade, a voz e a perspectiva. Nesse exercício, ninguém é mais qualificado para contar sua história do que você mesmo. Faça essa experiência.
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REFERÊNCIAS
1 Artigo “Como fazer uma autobiografia: 18 dicas para contar histórias pessoais e familiares com confiança”
Disponível em: https://www.familysearch.org/pt/blog/18-dicas-de-redacao-como-contar-historias-pessoais-e-familiares-com-confianca
2 Vídeo “Roteiro de 10 passos para escrever sobre sua história de vida” por Cecilia Xavier: https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=Md-BoWx7dV8
- Podcast “Sua história, sua bússola” por Natália Sousa do “Para dar nome às coisas”: https://open.spotify.com/episode/0Cl0g9Fc3P36iItR4L5VI9?si=4a52c87
PARA SABER MAIS:
– Livro “5 Lições de Storytelling: Fatos, Ficção e Fantasia”, por James McSill, para ajudar você a escrever suas histórias. Disponível em: https://www.amazon.com.br/Li%C3%A7%C3%B5es-Storytelling-Fatos-Fic%C3%A7%C3%A3o-Fantasia/dp/8582891040
– Curso online gratuito “Prática Narrativa”, do grupo Reciclando Mentes: https://cursos.reciclandomentes.org/courses/o-que-e-pratica-narrativa-curso-gratuito/
– Benefícios do Diário da Gratidão para nos conectarmos com a nossa própria história: https://www.youtube.com/watch?v=kMNxjgGwA44
EXERCÍCIO “DIÁRIO DA GRATIDÃO”: você deve me escrever 1x por dia (de preferência à mão, em um caderno) um motivo pelo qual é grata hoje. Tente escrever de maneira específica e, se conseguir, descreva outros sentimentos que surgiram.
Exemplos:
- “Hoje eu gostaria de agradecer por ter conseguido finalizar um texto difícil. Me sinto realizada”.
- “Hoje eu me sinto grata, porque fiz uma surpresa para meu marido, comprei um doce/livro/escrevi um cartão e ele gostou muito”.
- “Hoje agradeço por ter feito exercício físico e cuidado de mim”.
Faça ao longo de 21 dias. Depois, busque ler e analisar: pelo que eu mais agradeço? Meus agradecimentos estão relacionados à sobrevivência, papéis familiares, profissionais ou sociais? Quais as pessoas que mais menciono? Como posso escrever minha história de vida, hoje, com base nos meus agradecimentos?
Continue sua jornada
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